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O(s) esquema(s) do Aécio

Veja os destaques da coluna publicada neste sábado (22)


Arte - Aécio Neves
Arte - Aécio Neves
Foto: Amarildo

“O Aécio, rapaz... O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio?”, pergunta o ex-presidente da Transpetro, Sergio Machado, ao senador Romero Jucá (PMDB), seu interlocutor em tratativa explícita com o intuito de abafar a Lava Jato. O diálogo foi grampeado pelo próprio Machado e tornado público em maio de 2016. Os fatos que se sucederam desde então, incluída aí uma série de delações e evidências, conferem cada vez mais consistência àquela primeira insinuação de Machado, que no entanto teria errado ao preferir o singular ao plural para falar do “esquema” do senador mineiro.

Em menos de um ano, Aécio passou a ser suspeito de envolvimento não em um, mas em um conjunto de esquemas ilegais. Agora, também confirmando o prognóstico de que “o Aécio não tem condição (de concorrer à presidência novamente)”, o Mineirinho das planilhas da Odebrecht se torna recordista, ao lado do mesmo Jucá, de inquéritos abertos por decisão do ministro Edson Fachin para investigá-lo pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, cartel e fraude em licitação. Ao todo, são cinco investigações contra ele que correrão no Supremo.

Aécio é citado no depoimento de cinco delatores, a começar por Marcelo Odebrecht. Segundo o neto de Norberto (fundador do grupo Odebrecht), o neto de Tancredo (um dos fundadores da Nova República) recebeu pelo menos R$ 50 milhões em troca de atuação em favor dos interesses da empreiteira em negócios envolvendo o setor energético do país – especificamente, as estatais Furnas, federal, e Cemig, estadual.

De quebra, o senador tucano logrou duas “proezas”. Segundo ranking feito pelo “Estadão”, considerando valores citados pelos delatores e cifras que constam em planilhas já entregues à Lava Jato, Aécio foi o 3º político que mais recebeu recursos ilegais da Odebrecht, em uma lista de 415 nomes, tendo amealhado nada menos que R$ 65 milhões. Além disso, “conseguiu” ser citado e passar a ser investigado por condutas imputadas a ele como governador de Minas (2003-2010), senador da República (desde 2011) e candidato à Presidência (2014).

Mas os ilícitos supostamente cometidos por Aécio podem remontar a mandatos anteriores. No mesmo diálogo recordado no início desta coluna, Machado sugere algum tipo de irregularidade para eleger o então deputado federal à presidência da Câmara em 2001. “O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele (Aécio) ser presidente da Câmara?”

Aécio, em teoria, pode até conseguir escapar de condenações, isso se de fato vier a ser julgado no STF. Mas tanto a gravidade como o volume de atos criminosos atribuídos a ele de uma leva têm força suficiente para tirá-lo completamente do páreo presidencial em 2018 e para obrigá-lo a reconsiderar qualquer aspiração em exercer algum protagonismo na política nacional de agora em diante.

Até porque, para o eleitor, o que cala mais fundo é a aparente hipocrisia de um candidato que por muito pouco não chegou ao Planalto em 2014 e que, naquela campanha, apresentou-se como um contraponto ao que chamava de “mar de lama”. Nos debates, o tucano denunciou a corrupção na Petrobras e bateu pesado em Dilma por causa do petrolão. Não que as críticas à petista não fossem merecidas. A questão é que, como agora fica claro, Aécio chafurdou na mesma lama. Hoje, aqueles ríspidos debates que marcaram o 2º turno parecem uma disputa baixíssima entre o sujo e o mal lavado.

Aliás, após a “delação do fim do mundo”, já não é suficiente restringir à Petrobras, tampouco ao governo do PT, a discussão sobre corrupção no meio político brasileiro. Como ficou patente, o problema se fez estrutural e suprapartidário, sem excluir praticamente nenhum dos principais partidos e líderes políticos do país. Muito menos Aécio Neves.

“O primeiro a ser comido vai ser o Aécio”, previu Machado a Jucá. Não se sabe ainda se o tucano será mesmo comido pela Lava Jato, mas duas coisas parecem certas: Aécio “comeu” muito dinheiro indevido. E o eleitor dificilmente vai engolir outra candidatura sua.

Brincadeira de criança

Perto do que veio à tona desde então, hoje parecem brincadeira de criança as discussões sobre o aeroporto construído por Aécio na cidade de Cláudio (MG) em benefício da própria família ou se Dilma sabia ou não das cláusulas do contrato da Petrobras que prejudicavam a própria estatal na aquisição de Pasadena. Isso hoje é passado. Mas vale a pena recordar algumas das declarações do candidato do PSDB em debates presidenciais no 2º turno de 2014.

“Inacreditável”

No dia 14 de outubro de 2014, houve o primeiro debate, da TV Bandeirantes. Aécio afirmou que a adversária chegou a elogiar o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa. “Todos nós brasileiros acordamos com novas denúncias todos os dias. Sobre a Petrobras é absolutamente inacreditável o que aconteceu. Vi somente um momento de indignação da candidata com os vazamentos. Esse diretor que desviou e devolveu R$ 70 milhões aos cofres públicos, que assume que roubou, disse que distribuía esse dinheiro aos partidos... Quais foram os bons serviços prestados por esse diretor a que a senhora se referiu na carta?”, indagou Aécio.

“Mar de lama”

Na mesma contenda, Aécio pediu a Dilma para elevar o nível do debate. “Eu terminei meu mandato sem qualquer denúncia. Não respondo a nenhum processo. A senhora deixou o governo num mar de lama.”

“Sabe de nada”. E ele?

No debate seguinte, o mais violento de todos, promovido pelo SBT no dia 16 de outubro, Aécio tornou à carga: “A senhora sempre diz que não sabe de nada. De quem é a responsabilidade por tantos desvios na Petrobras? (...) Onde estão os desvios da Petrobras que não cessam nunca? Não existe uma terceira alternativa. Ou a senhora foi conivente ou a senhora foi incompetente para cuidar da maior empresa brasileira.”

Cena política

Por que, afinal, o codinome de Audifax Barcelos na planilha da Odebrecht é “Italiano”? Trata-se de um dos apelidos mais enigmáticos, mas um experiente jornalista deu um palpite oportuno: pode ser um truque de memorização, fazendo associação à canção “Al di là”, um clássico da música popular italiana, consagrada na voz do cantor de mesma origem Emilio Pericoli – sobrenome que, literalmente, significa “perigos”.

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