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Theodorico na oposição

Confira a coluna Praça Oito desta terça-feira, 21 de fevereiro


Praça oito

Theodorico Ferraço (DEM) começa a cumprir a sua ameaça de dar trabalho para o governo Paulo Hartung em seu retorno ao chão do plenário. Na sessão desta segunda-feira (20), o ex-presidente da Mesa Diretora apresentou um requerimento para realização de uma sessão especial na Assembleia “para discutir a atual crise na segurança pública estadual”. A base governista se mobilizou e derrubou o requerimento por 16 votos contrários. Theodorico ficou enfurecido e saiu do plenário expelindo fogo pelas ventas. O episódio suscitou algumas conclusões:

Em primeiro lugar, Theodorico não está de brincadeira. Já blefou algumas vezes anteriormente, mas desta vez não tem nada a perder e parece disposto a cumprir de verdade a sua ameaça de “ficar vigilante” com relação aos atos do governo e da nova Mesa Diretora, presidida por Erick Musso (PMDB) – com quem teve primeiro entrevero ontem, no início da sessão. Tudo indica que, nos próximos tempos, criará preocupações tanto para o governo como para a Mesa governista.

Usando retórica forte, o ex-presidente acusou a base governista de ter manobrado para evitar a aprovação da sessão especial que ele propôs e afirmou que, desse jeito, o melhor é fechar de vez as portas da Assembleia.

“A Assembleia acabou de provar que pode fechar as portas de uma vez. A Casa não existe mais. Como é que a Assembleia vai se negar a fazer uma sessão para discutir o problema que está acontecendo com o Espírito Santo? Ninguém se entende. Já são 21 dias e quase 200 mortes. (...) Esta Casa perdeu uma grande oportunidade de ter a sua personalidade. E o governo perdeu muito mais. (...) Essa decisão vai receber a máxima repulsa da sociedade. (...) Estão esperando o quê? Que o Espírito Santo acabe?”

Para Theodorico, foi “a máquina do governo” que operou para derrubar o requerimento, por intermédio de Gildevan Fernandes (ainda líder do Executivo na Casa) “e seus companheiros de Mesa”. “E eu acho que o governo não deveria se meter, pelo contrário: isto aqui é para ajudar até o governo.”

O episódio mostra, ainda, que o Palácio Anchieta está determinado a abafar qualquer iniciativa política de fora do governo que sirva para aquecer a discussão sobre a crise na segurança. Após a fatídica reunião realizada por 20 deputados e pela senadora Rose de Freitas (PMDB) com representantes das mulheres de PMs há exatas duas semanas, o Palácio não quer permitir que nenhum líder político, muito menos o agora oposicionista Theodorico, assuma qualquer protagonismo no debate sobre a crise. Não quer perder o controle da situação de novo.

Ao mesmo tempo, fica demonstrado que os deputados da base governista estão escaldados e temerosos de represálias do Palácio. Depois que o governador Paulo Hartung voltou ao Estado criticando reuniões feitas às escondidas – ainda que essa não fosse uma menção à do dia 7 na Assembleia –, não farão nada que possa remotamente contrariar o Palácio com relação ao tema “crise na segurança”.

Quanto ao mérito da decisão do plenário de rejeitar o pedido de Theodorico, é próprio do jogo político. Agora, que é estranho, é. Por iniciativa de diversos deputados, a Assembleia sempre realiza sessões especiais para discutir os mais variados assuntos. Os requerimentos para isso passam praticamente despercebidos na leitura do expediente, sendo aprovados de modo quase automático. Chama a atenção, então, que a maioria dos deputados se organize agora para derrubar a promoção de um debate sobre o tema mais importante do momento.

É óbvio para todos que Ferraço pode estar buscando crescer politicamente com isso, como aquele que tomou a iniciativa de convocar e capitanear tal discussão. Óbvio também que, com os pés firmados como nunca na oposição a PH, ele no fundo pode mesmo é estar querendo constranger o governo e jogar mais lenha na fogueira. Mas a princípio o que ele propôs foi só a promoção de um debate na Casa do Povo, com a participação do governo do Estado, das polícias Militar e Civil, entidades da sociedade civil, enfim, todas as partes interessadas. Por que não?

Sejam quais forem as reais motivações ferracistas, um Parlamento que se recusa a debater é como um PM que se recusa a sair do quartel. Deixa de cumprir sua missão e perde a razão de ser.

Bateu de banda

Theodorico Ferraço deu uma alfinetada em Amaro Neto na justificativa de seu requerimento de sessão especial. Pediu que o plenário o aprovasse, “na certeza de que essa Casa de Leis abrirá suas portas para a sociedade (...), demonstrando independência e autonomia, não sendo omissa (‘esperando a banda passar’) e não ficando de costas às expectativas e necessidades da população”.

Só para lembrar

Amaro disse que, na eleição da Mesa, Ferraço viu a banda passar e perdeu.

“Não é o momento”

Acusado por Theodorico de ter liderado a manobra para rejeitar seu requerimento, Gildevan Fernandes rebateu que não houve manobra e sim decisão democrática. “Eu fui um na maioria, que tem respeito pelo deputado Theodorico Ferraço e por suas proposições, porém entendemos que esse não era o momento exato para se promover tal evento.”

Quando então?

“Os deputados, em sua maioria, entendem que dentro de poucos dias esse tema deve ser debatido, sem a influência da forte carga emocional do momento. Com mais racionalidade, podemos fazer com que todas as partes avancem no diálogo, em prol da segurança”, inteirou Gildevan.

Sempre passa

Pouco antes de rejeitar o requerimento de Theodorico, o plenário aprovou o do deputado Rodrigo Coelho (PDT) para realização de outra sessão especial, com o objetivo de debater a campanha da fraternidade deste ano.

Marcelo ameaça sair

O deputado Marcelo Santos ameaçou sair do PMDB, partido de Michel Temer, caso o presidente da República autorize a importação de café do Vietnã, em prejuízo de produtores capixabas.

Cena política

Theodorico se confundiu na citação bíblica. “Ninguém está pedindo para dar 43% de aumento (aos PMs). Ninguém está pedindo para perdoar. E, se perdoar também, qual é o problema? Cristo perdoou sete vezes setenta.” Literalmente, o certo é “setenta vezes sete”. Mas, se a citação está errada, a matemática está correta: a ordem dos fatores não altera o produto.

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