Rondinelli Tomazelli

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O fator 2018

Confira a coluna Praça Oito desta segunda-feira em A GAZETA


A Operação Lava Jato ainda tem fôlego e canhão para derrubar muito candidato do páreo, mas a sucessão presidencial de 2018, no cenário desenhado hoje, indica a repetição da polarização entre PT e PSDB, mas com a possível multiplicação de candidaturas nos polos à esquerda e à direita. A cúpula do PT em São Paulo já trabalha a estratégia de lançamento da candidatura de Lula, ao mesmo tempo em que as maiores raposas de Brasília já consideram que passou o “timing” para a Lava Jato prender o ex-presidente. O petista já é réu pela quinta vez e resiste politicamente aos investigadores do petrolão.

Já no PSDB, a novidade é a volta de José Serra ao front. Por questões de saúde e na mira das novas delações da Odebrecht que o acusam de receber propina, ele deu um nó no PSDB ao deixar, de surpresa, o Itamaraty. Serra retorna ao mandato com a estratégia de fincar pé no jogo político e fazer sombra ao colega Aécio Neves no Senado. Também investigado na Lava Jato, Aécio preside o partido no país, mas não é candidato automático ao Planalto: tem que combinar antes com os desafetos paulistas.

Outro tucano com pretensões presidenciais, o governador Geraldo Alckmin há tempos ensaia uma filiação ao PSB, tentando selar um voo fora da concorrência interna do PSDB. Mas nada está definido, porque Alckmin joga para fazer pressão e se cacifar antes de ser rifado pelo fogo amigo. O PSDB, sabe-se, vem perdendo as últimas eleições nacionais para o PT. Após 14 anos de jejum, só agora aproveita as benesses do poder na aba do mandato-tampão de Michel Temer, cujo partido, o PMDB, nem de longe pensa em lançar um candidato próprio para defender seu acidentado governo.

E ninguém ali está disposto a “ir para o sacrifício”. É uma gestão marcada por sucessivas crises políticas que acabam ofuscando as boas notícias da recuperação da economia. A renovação do PMDB seria em torno de nomes como o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes, a quem só restou mergulhar depois da prisão do amigo Sérgio Cabral. Hoje, mesmo lambuzados do poder federal, os caciques peemedebistas estão se debatendo num afogamento coletivo, caídos no fosso da Lava Jato. Possivelmente restará ao partido compor com alguma sigla em 2018, quem sabe para uma vaga de vice.

Aliás, o “golpe” de Temer na queda de Dilma Rousseff (PT) deve ficar de fora de um novo discurso ensaiado por Lula para a campanha verbal daqui para frente. Segundo fontes do PT no Senado, o petista tem orientado os parlamentares do partido a virar a página e deixar para trás o discurso golpe (que o próprio ex-presidente alimentou). As pesquisam hoje apontam seu favoritismo, reforçado inclusive no seu berço, o Nordeste, de onde um experiente analista diz o seguinte: “A população quer saber do milagre, e não do santo. Não importa se é da direita ou da esquerda”.

Esse raciocínio ainda casa com a futura estratégia de Lula: focar no saudosismo, na saudade da Era Lula, marcada no imaginário nacional como o período de ascensão social, dinheiro no bolso, prosperidade e melhora de vida. O petista, portanto, não vai surfar necessariamente na afinidade ideológica, mas nessas razões pragmáticas e objetivas para recompor um PT sob escombros.

Também capaz de avançar nos estratos da classe média, Lula é o único nome que hoje aglutina o campo mais à esquerda, que se divide em partidos pequenos ou situados na linha auxiliar do PT. Marina Silva, da Rede, sumiu do mapa e se segura num recall já diluído. Já a dita “direita” está rachada, temendo que sua faixa de eleitorado seja sequestrada pelo perigoso “efeito Bolsonaro”.

O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), ruralista com penetração no segmento antipetista, não abre mão de se candidatar ao Planalto, mas os caciques do partido, que sempre se alinhou em chapas majoritárias ao PSDB, estão preocupados com a ascensão descontrolada do polêmico deputado do Rio. Bolsonaro endossa uma pauta ultraconservadora que atrai um eleitorado mais radical para uma onda reacionária, flertando também com um populista “efeito Trump”.

Aliás, um país com crise econômica, sistema político em colapso – e com a sociedade desacreditada nos partidos que já chegaram ao poder – tem tudo para pulverizar as correntes e inflar candidaturas bizarras.

Cheio de conselheiros

“Lula tem vivido seu luto pessoal pela morte da mulher, mas não deixa de se reunir com lideranças, e há muita gente experiente disposta a ajudá-lo e a orientá-lo. No Congresso, esse discurso do golpe já silenciou”, observa um interlocutor petista. Na bancada do PT no Senado, só Gleisi Hoffmann e Lindbergh Farias insistem nessa linha. Humberto Costa cala.

Trinca rachada

Sinal vermelho no Planalto. A caminho, as delações da Odebrecht prometem envolver até a medula o staff de Temer, cujo único consolo é usar o argumento da alta impopularidade para aprovar, no melhor dos cenários, a cascuda e amarga reforma da Previdência no Congresso este ano. Sem condições de reeleição, o presidente se enfraquece, fica isolado e tem tudo para ser escondido por aliados da campanha de 2018: depois da queda de Geddel Vieira Lima, as duas outras pontas da trinca palaciana – Moreira Franco e Eliseu Padilha – tomam tiros seguidos sob acusação de corrupção. A única boia é a base no Congresso.

Relação de amor e ódio

O PT capixaba está confiante de que Paulo Hartung vai ajudar o partido a montar uma boa chapa para as eleições estaduais no ano que vem.

PEC da federalização

A senadora Rose de Freitas (PMDB) protocolou uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de federalização dos órgãos de Segurança Pública do país. O objetivo é incorporar as polícias civis à Polícia Federal, unificando as polícias militares em uma Polícia Militar da União e unificando os corpos de bombeiros militares em um Corpo de Bombeiros Militares da União.

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