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Diálogos com Vannucci - parte 2

Confira a coluna Praça Oito publicada nesta segunda-feira em A GAZETA


Maior capacidade de resiliência dos partidos situados no centro das investigações de corrupção. Eis uma diferença fundamental que se destaca em meio a tantas semelhanças possíveis de assinalar entre a Lava Jato e a Mãos Limpas – operação que, entre 1992 e 1996, desbaratou uma organização criminosa profundamente ramificada em todos os níveis do poder público italiano. A diferença é sublinhada pelo professor Alberto Vannucci, do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de Pisa, com quem a coluna inaugurou ontem uma série de diálogos com o intuito de identificar e compreender melhor os pontos de contato entre a Lava Jato e a operação italiana que, em boa medida, inspirou a brasileira.

Na sequência da série, Vannucci ressalta que, ao contrário do que se viu na Itália, onde os partidos que governavam o país desde 1948 foram riscados do mapa, no Brasil as agremiações mais envolvidas no petrolão – por isso mesmo mais atingidas pelas investigações da Lava Jato – continuam de pé e relevantes de alguma forma no cenário político nacional.

“É uma diferença muito importante. O sucesso inicial da Mãos Limpas estava ligado ao fato de que aquelas investigações golpeavam e enfraqueciam precisamente aqueles centros de poder e aqueles partidos políticos mais importantes que eram de certo modo os artífices da corrupção, ou seja, aqueles que garantiam que aquela corrupção sistêmica se perpetuasse ao longo do tempo.”

Segundo Vannucci, aqueles partidos hegemônicos (sobretudo o Democrático Cristão) foram os mais afetados pelas investigações. Então, à medida que estas os enfraqueciam, os empresários, políticos e funcionários envolvidos na mesma rede de atividades corruptas não se sentiam mais obrigados a respeitar aquele “pacto de omertà” (código de honra transposto da máfia e baseado na lei do silêncio) e, por isso, colaboravam com os juízes.

“Então, foi golpeado no coração aquele centro de poder oculto que se encontrava nos partidos políticos emprenhados da corrupção, que governavam aquele sistema. E o mesmo então desmoronou como um castelo de cartas, porque, na prática, aquele sujeito que garantia a corrupção estava enfraquecido. Isso explica aquela revolução que transforma em pouquíssimo tempo o sistema político e partidário italiano. Em pouquíssimos meses, a Mãos Limpas faz sumirem do mapa os partidos que tinham dominado a cena política italiana ao longo dos quase 50 anos anteriores. Ecco, no Brasil isso não aconteceu. Esses partidos que estão no centro do poder, ainda que enfraquecidos, continuam de pé.”

Como se pode explicar isso? O professor formula duas hipóteses:

“Talvez resistam porque sejam um pouco menos corruptos do que os partidos italianos, numa hipótese otimista. Já numa hipótese pessimista, talvez porque tenham sido capazes de criar barreiras protetivas com relação à Lava Jato, que lhes permitam de alguma maneira manter uma ligação com o poder e também um modo de se legitimarem ante os olhos dos eleitores, que continuam a lhes dar o seu apoio”, especula o professor, antes de concluir:

“Ao fim, é verdade que a revolução da Mãos Limpas foi uma revolução iniciada pelos juízes, mas produziu o efeito que produziu (o fim de um sistema político) porque, ao fim e ao cabo, aconteceu uma revolução popular: foram os eleitores, isto é, os cidadãos, que retiraram o seu apoio àqueles partidos, os quais assim foram realmente eliminados do sistema político italiano.”

Se o mesmo ainda ocorrerá no Brasil? Saberemos em 2018.

Correlação

De fato, a análise do professor Alberto Vannucci tem propriedade: o PT, embora muito enfraquecido na última eleição municipal, conserva uma base eleitoral fiel, pode se reinventar, surfar na onda de rejeição, nas medidas impopulares e nos erros sucessivos do governo Temer e chegar competitivo a 2018 com Lula. Do PMDB, então, o que dizer? De sócio do PT no petrolão, acabou tomando o lugar daquele no centro do poder, e aí está.

Rose aponta erros

Líder do governo Temer no Congresso por alguns meses no ano passado, a senadora Rose de Freitas (PMDB) avalia que o mesmo está errando principalmente no diálogo com a população.

Interlocução

“Até agora, na questão do ajuste da economia, ele está correto. Mas ele tem que levar em conta a maneira de se colocar e explicar as suas decisões. É uma coisa que acho importante essa questão da comunicação. Ele (Temer) tem essa dificuldade. Tem que expressar mais sensibilidade. Eu sei que ele a tem. O caso do ‘acidente pavoroso’, por exemplo, eu sei que não foi de propósito”, pondera a peemedebista.

Setor produtivo

Rose acha que o governo do seu correligionário também está pecando na interlocução com o setor empresarial. “Está errando também na interação com o setor produtivo do país, que precisa ser ouvido. Você produz Refis e reajuste aqui e ali, limita o teto dos gastos, vai eliminando as despesas públicas, mas tem que acrescentar a tudo isso a reforma tributária. O erro do governo é não sentar na mesa com os representantes das indústrias na hora de determinar as iniciativas na área econômica. Mas não são erros insanáveis”, julga a senadora.

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