Especial Festa da Penha 2017


Ladeira da Penitência: 457 metros de história, pedras e fé no Convento

Na companhia do frei Pedro de Oliveira, o Gazeta Online conheceu a história da ladeira, que começa na gruta de frei Pedro Palácios, ao lado do antigo portão de acesso, que só é aberto em ocasiões especiais

Frei Pedro de Oliveira falou sobre a história da Ladeira da Penitência no do Convento
Frei Pedro de Oliveira falou sobre a história da Ladeira da Penitência no do Convento
Foto: João Paulo Rocetti

A história do Convento da Penha se mistura com a da Ladeira da Penitência. A via de acesso ao santuário, exclusiva de pedestres, é onde muitos romeiros, ainda hoje, sobem de joelhos, para pagar promessas à padroeira do Espírito Santo.

O local, também conhecido como “Ladeira das Sete voltas” ou ainda das “Sete Alegrias de Nossa Senhora”, tem declive acentuado e exige um certo esforço físico para subir os 457 metros. 

 

Já passaram por ela personalidades importantes de cenário religioso e político do país, como o Imperador Dom Pedro II e sua comitiva em 1860. O calçamento de pedras é produto do trabalho dos escravos, que ocorreu pelo ano de 1643, iniciativa do Frei Paulo de Santo Antônio, tendo sido entre 1774 e 1777 renovado e que perdura até os dias de hoje.

Na companhia do frei Pedro de Oliveira, o Gazeta Online conheceu a história da ladeira (veja vídeo acima), que começa na gruta de frei Pedro Palácios, ao lado do antigo portão de acesso, que só é aberto em ocasiões especiais.

Diz a história que depois de pisar em solo firme na Capitania do Espírito Santo, Frei Pedro Palácios desapareceu. Dias depois, seus companheiros de viagem resolveram procurá-lo e só depois de três dias o encontraram no sopé da montanha, junto à praia, ao lado esquerdo de quem entra pelo atual portão da ladeira. Ainda hoje, o local é conhecido por “Gruta de Frei Palácios”. (Com informações do Convento da Penha)

Especial Festa da Penha 2017


Casa dos frades no Convento da Penha tem vista de tirar o fôlego

A residência é dividia em sete níveis. Conhecemos de perto a intimidade dos seis frades que moram no local

Sala de convivência dos frades
Sala de convivência dos frades
Foto: João Paulo Rocetti

Por onde se olha, a vista é exuberante. Morro do Moreno, Terceira Ponte, a Mata Atlântica, Mestre Álvaro, baía de Vitória e o litoral de Vila Velha. Quem visita, já desfruta de tanta beleza, mas quem mora, tem ainda mais privilégios. E nós, do Gazeta Online, fomos conhecer cantinhos poucos conhecidos, inclusive a residência, do ponto turístico mais famoso do Espírito Santo: o Convento da Penha.

Lá, descobrimos que, na verdade, o nome Convento se refere a casa dos frades. “O povo capixaba diz que vai ao Convento. Normalmente significa ir visitar Nossa Senhora, celebrar a missa e fazer a confissão. Alguns até nem imaginam que a gente more aqui. A parte da igreja é o santuário de Nossa Senhora da Penha”, conta o guardião do Convento da Penha, frei Paulo Roberto.

Ele explica que o nome convento tem uma aproximação com convenção, que é uma reunião. “Viver no convento é viver reunido, que é uma característica da vida consagrada. Somos seis freis e outros tantos que vêm nos visitar. Esse é o espaço da clausura. A compreensão de convento foi se transformando ao longo do tempo para o lugar que habita uma fraternidade. Hoje não dizemos convento, mas casa.”

Corredor onde ficam os quartos dos frades no Convento da Penha
Corredor onde ficam os quartos dos frades no Convento da Penha
Foto: Laila Magesk

Mas, é claro, que o nome conhecido há quase 500 anos, não vai mudar, destaca frei Paulo Roberto. Então, nome esclarecido, fomos visitar a residência.

A CASA

Uma porta antiga de madeira da acesso à moradia. E logo na entrada uma janela revela a vista de tirar o fôlego e o mar azul. A construção é antiga e sem luxos. Um corredor extenso mostra os quartos dos frades, que são chamados de celas.

Ao caminhar, o chão de madeira faz o barulho do tempo que se esconde em tanta história. A casa é dividia em sete níveis, com escadas estreitas, e diferentes acessos à igreja.

No fim do corredor escuro, a claridade da sala de convivência. Da janela, a vista das palmeiras com o Mestre Álvaro ao fundo. O guardião revela que, de tempos em tempos, as palmeiras são trocadas e as atuais têm, pelo menos, 30 anos no local. “É o lugar mais fotografado no Convento.”

Depois da sala de convivência, ao lado fica a sala de TV e uma capela. Por falar em TV, o guardão admite que tem disputa pela programação e alguns frades veem novela. “Aquela mais água com açúcar, das seis horas. Aqui faz fila para assistir. Mas não é o meu caso, eu gosto de futebol”, diz o botafoguense.

O que todos os moradores fazem em comum é rezar e se alimentar. “A primeira missa durante a semana é às 6h. Quem vai celebrar precisa abrir o Convento às 5h15. Então acorda antes. Nós nos revezamos. Mas não passa das 6 horas.”

Capela de oração dos frades
Capela de oração dos frades
Foto: João Paulo Rocetti

Três vezes ao dia, eles se reúnem para oração na pequena capela. E fazem questão de se sentarem todos juntos à mesa. Uma vez por semana, há o recreio fraterno. “Tem alguma coisa para beliscar e é sempre um motivo para nos reunimos.”

Vista da sala de estar dos frades
Vista da sala de estar dos frades
Foto: Laila Magesk

 

O dia começa cedo, mas também pode terminar nas primeiras horas da noite. Silêncio é o que não falta.

Continuando o passeio, a casa abriga uma biblioteca antiga, uma pequena sacristia de serviço, cozinha e uma varanda que, mais um vez, mostra toda a beleza de Vila Velha. “Quando subo as escadas para chegar em casa, dou uma paradinha na varanda. Aqui a gente pode dizer da beleza e da grandeza de Deus. É um privilégio morar aqui e lembrar diariamente como Deus é bom para conosco.”

Varanda da casa dos frades
Varanda da casa dos frades
Foto: João Paulo Rocetti

A visita termina com a simpatia do frade, que faz jus ao primeiro título da padroeira do Espírito Santo, Nossa Senhora das Alegrias.

Sala de televisão
Sala de televisão
Foto: Sullivan Silva

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Cercados de animais, frades revelam como é o dia a dia no Convento

Tem até a visita das irmãs caranguejeiras. "Aquela era quase a avó das aranhas de tão grande", brinca o frei Pedro de Oliveira

Convento da Penha
Convento da Penha
Foto: Foto Leitor/Edmar Camata

O lugar é lindo, à noite o silêncio é absoluto, mas viver no Convento da Penha vai além desses encantos. Como a área é de mata, a companhia de animais faz parte da rotina dos religiosos. Cobras, macacos, aranhas e urubus são alguns deles.

Com sorriso largo, o frei Pedro de Oliveira conta que outro dia apareceu uma aranha gigante na capela. “Aquela era quase a avó das aranhas de tão grande (risos). Ela foi rezar também, mas eu não quis rezar com ela não”, se diverte.

O frade se lembrou de uma jiboia, que é moradora antiga do Convento. Além da cobra, vivem por lá os urubus. Esses, tem até um espaço próprio no local.

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- Ladeira da Penitência: 457 metros de história, pedras e fé no Convento

Exemplos de fé também não faltam na conversa. O frei Pedro de Oliveira e o frei Pedro Engel falam dos sacrifícios dos fieis e das curas pela intercessão da padroeira. Tem mais: você sabe que nem todo frade do Convento é padre? Um deles é chamado de irmão. 

A devoção à Nossa Senhora não ficou de fora. "Nós dizemos sempre: 'Peça a mãe que o filho atenderá. O filho jamais negará o pedido da mãe'", destaca o frei Oliveira. 

E será que moram freiras no local? Veja a resposta no vídeo acima e outras curiosidades de quem vive no santuário. 

Especial Festa da Penha 2017


Fotógrafo registra turistas, fiéis e famosos há 53 anos no Convento

Elias Honorato já fotografou famosos, como Angélica e Luan Santana, e tem muita história para contar

Fotógrafo Elias Honorato
Fotógrafo Elias Honorato
Foto: João Paulo Rocetti

Há 53 anos trabalhando no Convento da Penha, o fotógrafo Elias Honorato tem muita história para contar. Ele é da época que fotos não eram nem reveladas no Estado. Desde os 13 anos, Honorato registra imagens de turistas, fiéis e famosos que vão prestar homenagem à Nossa Senhora da Penha. Mas também já vendeu picolé, cartão postal e chaveiro no local, quando veio de São Mateus para Vila Velha.

Na conversa, ele fala que ganhou o apelido de 'Piolho do Convento' e da alegria de atuar no santuário. "A gente nem precisa de morrer para ir para o céu". Veja. 

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Comerciante doa mais de 6 mil velas para a Romaria dos Homens

Para confeccionar as lanternas o comerciante conta com doações, tanto de velas quanto de garrafas pet

Às 6 horas da manhã lá está o comerciante Drauzio Gomes da Silveira, 61 anos, de pé, para confeccionar lanternas de garrafas pet e velas que serão usadas na Romaria dos Homens, na Festa da Penha. Até o momento, ele já produziu 7,5 mil peças, mas a expectativa é que esse número aumente até o próximo sábado, quando a romaria será realizada. A produção, segundo ele, está à todo vapor.

> Veja os cantinhos 'secretos' da casa dos frades no Convento da Penha

A tradição de produzir lanternas de garrafas pet e velas começou em 1997, quando ele já era devoto de Nossa Senhora da Penha, morava em Belo Horizonte, Minas Gerais, e vinha ao Espírito Santo para passear e participar da Romaria dos Homens.

Drauzio Gomes da Silveira prepara lanternas com garrafas pet e velas para serem distribuídas na Romaria dos Homens
Drauzio Gomes da Silveira prepara lanternas com garrafas pet e velas para serem distribuídas na Romaria dos Homens
Foto: Edson Chagas

“Naquele ano, vi umas pessoas vendendo lanternas na Catedral de Vitória, mas eram muito mal feitas, então decidi que no próximo ano eu faria algo melhor, e em 1998, confeccionei 3.006 lanternas”, lembra.

Desde então, Drauzio não parou mais de fabricar os utensílios, que ajudam a tornar a Romaria dos Homens ainda mais bonita. Já teve ano que ele chegou a confeccionar mais de dez mil peças.

Em janeiro de 2013, um Acidente Vascular Cerebral (AVC) quase colocou fim à tradição. "Foram dez dias internado, vários exames e quando todos acharam que era o fim, Nossa Senhora da Penha operou mais um milagre na família Silveira. Graças a Deus e à Nossa Senhora não fiquei com nenhuma sequela. Ela me ajuda a vida inteira, e eu ter ficado bonzinho foi mais uma ajuda dela”, conta emocionado.

Para confeccionar as lanternas o comerciante conta com doações, tanto de velas quanto de garrafas pet. As pessoas passam e jogam no quintal da casa onde ele vive com a esposa, em Praia das Gaivotas, Vila Velha. “Algumas preferem me dar o dinheiro para eu comprar as velas. Até gente que eu nem conheço me ajuda”.

Durante todo o ano, a confecção não para. Drauzio atende no bar da família e, quando sobra um tempinho, corre para cortar uma garrafa. Nos meses que antecedem a festa, o bar fica fechado, e a dedicação do comerciante fica exclusiva à produção das lanternas. Para isso, ele conta com a ajuda de amigo, que o auxilia nessa missão há 18 anos. “Assim como eu, ele é muito devoto de Nossa Senhora da Penha. Tem dias que trabalhamos de 12 a 14 horas”, diz.

> Festa da Penha: histórias de fé e devoção dos voluntários

A esposa de Drauzio, Maria Carmem Natali, mais conhecida como Carminha, conta que é tanta garrafa pet em casa, que por vezes, fica até nervosa com o marido. “Às vezes fica uma bagunça, aquele monte de garrafas no quintal, tem dias que não aguento mais ver garrafas na minha frente, mas ele fala que enquanto tiver vida ele vai fazer as lanternas, e eu estarei lá ao lado dele, porque é uma tradição muito bonita. Quando a Festa da Penha se aproxima ele só tem olhos para isso”.

> Terço inspirado em Nossa Senhora é erguido no Convento

Quem quiser contribuir com doações pode entrar em contato pelos telefones (27) 9 8805 8240 e 99224-1141 ou levar à casa da família na Rua Francisco Domingos Ramos, n° 13, Residencial Andorinhas II, Praia das Gaivotas, Vila Velha.

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Romaria não é "micareta religiosa", diz frade

Frei Paulo Roberto alerta que fiéis precisam ter um propósito enquanto participam da Romaria dos Homens. Procissão, considerada o momento mais importante da Festa da Penha, será neste sábado

Neste fim de semana, cerca de 700 mil pessoas devem participar da Romaria dos Homens, o ponto alto das comemorações da Festa da Penha. A cada ano, a procissão, sempre aos sábados, ganha mais adeptos. Na primeira Romaria dos Homens, realizada em 1950, o público era praticamente masculino. Ao longo desses 67 anos, a caminhada ganhou novos adeptos e muita gente hoje a chama de “Romaria da Família”. Entretanto, o guardião do Convento da Penha, frei Paulo Roberto, destaca que os romeiros devem participar da caminhada com um propósito, para que a romaria não se torne uma “micareta religiosa”.

“Quero pedir que as pessoas que vão participar não percam o espírito de piedade e devoção. Se não, as romarias se transformam numa caminhada e ela é mais do que isso. Ou pior, se transformam em uma 'micareta católica' e não convém que seja assim”, explicou.

 

 

Em seu primeiro ano de Festa da Penha como guardião do Convento, frei Paulo destacou que as pessoas que vão participar da romaria precisam estar cientes que os 14 quilômetros percorridos entre a Catedral Metropolitana até o Convento são para aqueles que buscam fortalecer a fé. “Caminhamos para renovar nossa fé, para alimentar nossa esperança, para testemunhar nossa fé nas ruas da cidade”, disse.

OUTRAS ORIENTAÇÕES

A Arquidiocese de Vitória orienta que os fiéis que vão participar da romaria tenham cuidado com meio ambiente, não jogando lixo no chão durante o trajeto. Orienta também que a pessoa esteja bem de saúde e fisicamente para conseguir fazer a caminhada.

A Romaria dos Homens será realizada neste sábado (22), com saída da Catedral de Vitória às 19h.

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Vídeo de drone mostra colocação de terço no Convento da Penha

O biomédico Alcemir Júnior, que fez a gravação a partir de um drone, conta que decidiu registrar o momento devido ao pai ser um dos voluntários na ação

Vídeo de drone mostra colocação de terço no Convento da Penha
Vídeo de drone mostra colocação de terço no Convento da Penha
Reprodução/Alcemir Júnior

Um internauta fez imagens aéreas da colocação do terço inspirado em Nossa Senhora Aparecida nas palmeiras do Convento da Penha, em Vila Velha. A instalação começou por volta das 9 horas de sábado (15) e é tradição da Festa da Penha. Confira o vídeo:

O biomédico Alcemir Júnior, que fez a gravação a partir de um drone, conta que decidiu registrar o momento devido ao pai ser um dos voluntários na ação. "Ele é o responsável pela instalação. Faz esse trabalho há 19 anos. Ele é aposentado e sempre tento acompanhá-lo. Ele foi o primeiro que assistiu ao vídeo e gostou muito", relata.

A intenção de realizar a filmagem foi, também, para divulgar o Convento da Penha, ponto turístico de Vila Velha. Ele afirma que não faz as imagens profissionalmente e, sim, como um hobby. "Somos católicos e eu quis mostrar o trabalho das pessoas, a obra e o conceito em si. Eu postei no Youtube e várias paróquias me pediram o vídeo", finaliza o biomédico.

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Conheça a história da construção do Convento da Penha

Convento da Penha
Convento da Penha
Foto: Reprodução/Facebook Memória Capixaba

O Santuário de Nossa Senhora da Penha é patrimônio arquitetônico e artístico do Espírito Santo. O local foi fundado por Frei Pedro Palácios, que chegou ao Estado, em 1558, trazendo consigo o Painel de Nossa Senhora das Alegrias. Seu primeiro abrigo foi em uma gruta de pedra que fica no início da Ladeira da Penitência. 

> Eles aprendem cedo a ser devotos da Santa

Em 1562, Frei Pedro Palácios construiu uma capela dedicada a São Francisco de Assis, ao lado do Campinho, e em 1568 foi edificada no cume do penhasco, a 154 metros de altitude, a capela que recebeu a imagem de Nossa Senhora da Penha vinda de Portugal. 

> Cercados de animais, frades revelam como é o dia no Convento

Veja a cronologia da história do Santuário de Nossa Senhora da Penha: 

Relato do historiador

"Sob orientação dos frades franciscanos, a mão de obra empregada na construção (que durou muito tempo) e manutenção do convento era, em sua maior parte, constituída por pessoas escravizadas. De início, os índios e depois os escravos de origem africana. Havia, inclusive, os escravos de Nossa Senhora da Penha, geralmente, originados de pessoas ricas que, para pagar uma promessa (um voto), doavam um escravo ao convento, o que os transformava em ex-votos vivos. Sem eletricidade e maquinário moderno, os escravos faziam de tudo – limpeza, transporte de água e alimentos, cuidados com a cozinha, com os rebanhos de bois e cavalos do convento."

Fernando Achiamé, historiador e comentarista da Rádio CBN Vitória